Estranha é a retomada. A volta por cima, ou por baixo. O retorno a um mundo de belas paisagens, de olhos risonhos e aguados; a um céu de um cinza tão bonito. Bonito mesmo é caminhar pela chuva sem molhar os pés, contemplar esse vinco de onde os corpos se vedam e salivar a doçura que existe no sal. Com este lindo movimento, uniformemente variado advento, consegui fugir da inconstância que se construía na inércia do meu peito são e gozei.
Nesta vida que não pode ser freada fui capaz de estagnar outrora, sem imaginar que o mundo de agora poderia também existir, que poderia orbitar esse círculo que não teima em transladar esse sol que não me queima; que era possível ter-te. Houve um tempo em que meus sonhos sonhavam baixo, lambendo o chão com suas línguas ásperas e esponjosas, absorvendo o húmus agraciado que vivia sob o meu chão. Naquele tempo adiposo amei um monstro caviloso que só resplandecia dentro de mim, na minha mente dopada; um tempo de porra e cevada; de homens com vaga no céu.
Da abóboda celeste, porém, nenhum anjo branco reclinou. A brancura se fez insólita na carne dos homens, na pele de um príncipe aparvalhado que teve o crânio coroado pelos fluxos deste meu corpo vão. Doravante, alvejaram a etnologia que o identificava e me entregaram uma folha de papel em branco onde havia desenhado o rosto casto de uma mulher sagrada, desenhado pela testosterona que nunca molhou minha grafia afetada; gravado pelo desejo intumescido que nunca cativou este meu falo frígido, no entanto rígido, envernizado pelas querências bulbouretrais, pelos primaverais desterros.
Das mãos do desenhista jorravam fluidos de uma Itália que não se banhava em vinho, mas que se fartava em leite; transbordava dessa minha latrina cravejada, untada num azeite tão virgem quanto esta boca que vos fala. Ó, leite envelhecido nos barris de carvalho, talhado e refém das gotas de orvalho, orvalhando o suor que embicava-lhe as amolgaduras do peito; banha-me enquanto há tempo de esperar o tempo que não me golpeia, jorra em mim como sangue na veia; lava esse ventre carente que só sabe avultar, envolver e amar, este corpo tão sisudo.
E então, desnudo, desvirgino-me na estranheza revolta de cada fim de semana, entrego-me aos prazeres perigosos dessa data tão insana, e deixo que o domingo se aproxime sem nenhuma pretensão. Das despedidas não me arrependo, prefiro saborear o anseio que se forma e bebericar esses esboços de saudade, assumir as incertezas da idade, e sonhar com estas mãos de homem rascunhando esses cretinos corpos de mulher.