quinta-feira, 14 de abril de 2011

O 24º aposento da princesa


O ar que eu respirava era cheio de dólares
E o cheiro que ostentava bulia diplomacia.
O porcelanato era alvo
E o colarinho era negro.
As pompas eram inegáveis
Pois as pombas eram bem vestidas.
O sapato de bico queria me invadir
E a agudeza de seu salto se assemelhava à espinha.
A tiara era dourada
E a pureza era falsa,
Pois o sorriso era fosco
E o café era azedo.
O barbear era áspero
E o discursar tinha júbilo.
O antebraço era flácido
E a simpatia convencia.
O fosco sorriso ofuscava
E o baixo ventre era gordo.
Mas eu beijava
E acolhia o monarca da morte.
E sorria em resposta.
Fosco, admito, mas sorria.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Tomodachi


Quero macular os teus pés,
Alvejar tuas mãos
E abrir os teus olhos.
Lapidar os teus sonhos,
gerenciar os teus beijos,
E enxergar o ser humano que não negas.
Labirintar tua esperança
E esverdear teus desejos.
Destravar sua língua
E libertar seu pudor.
Apontar o seu lápis
E cravá-lo em mim.
Desenhar em você
Sem deixar que me apagues.
Despertar o grego de teu seio
Sem diluir o imperador do seu breu.
Reinar sobre tua luz
Sem te fazer de uma apoteose supérflua.
Caminhar ao teu lado
Sem tocar em você,
Sem me impor ao seu posto,
Sem entrar na tua casa.
Regar seu canteiro
Sem comer do seu fruto.
remexer sua terra
Sem tirar os teus fungos.
Rósea e doce ensinar-te,
Doutorar os seus lábios,
E entregá-los ao mundo que nunca foi seu.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

A Princesa e o Preto


A atmosfera era roxa
E a kinesfera era pobre.
A retórica era ácida
E o hálito fedia.

A princesa era una
E seu sapo era roxo.
O seu leite era ácido
E seu criado era preto.

O criado era preto
E o seu leite era uno.
Pois a retórica era roxa
E seu cabelo era ruim.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

A lembrança de um triste.


Nunca foi tão difícil pensar em você. Não sei mais o que enxergar, não sei se te conheço, e não estou dizendo que você se tornou algo ruim. Simplesmente não te conheço. Não sei o que houve, mas as suas feições começaram me fugir à memória. Não é tão simples quanto eu pensava ser. Lembrar de você tornou-se um martírio de todas as noites, a hemoterapia de todas as tardes sem lua. E a cada alvorada que eu assisto, seus olhos me parecem cada vez mais foscos, teu cheiro cada vez mais distante, tua pele cada vez mais cinzenta. Cada lágrima que cai me banha das impurezas que nunca tive, me lava dos demônios que você plantou em mim, e me encharca dos prazeres que só você me apresentou.