quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A herança do réu.



Eu ainda clamei pela sutileza,
Mas o clamor não fez efeito na tua audição embriagada.
Eu pedi inúmeras vezes por um pouco mais de sujeição,
Mas a sujeira que impregna  tua alma escolheu se despejar sobre mim...
Mais uma vez.

Mas uma vez não me é suficiente,
Meu coração é insistente, teima eu não enxergar você.
Eu entendo que você já não está mais aqui,
Apenas não te compreendo...
Mais uma vez.

Hoje sei que o tom sutil nunca veio,
Hoje os clamores se confundiram com teus gemidos.
Urros de horror vieram te substituir,
A vergonha entrou em mim tomando o lugar que era seu...
Mais uma vez.

O que veio é indistinguível,
A sutileza se fez viva desta vez, você foi quem morreu.
Ao menos me restou a sua amizade.
Queria eu que fosse Ao mais...
Ao mais uma vez.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A lua, O Astro, O Pólen, O Porto, E a ausência de mel.


Voltei pra aquela mesma linearidade. Depois de ser abandonado pela minha Lua pensei nunca mais ter sentido isto, mas você me relembrou dessas sombras, meu Astro. Acreditei que, depois de tudo que passou, eu enfim encontraria o coração correspondente que sempre sonhei e que sempre vi em você, pois era assim que você se apresentava sob os meus olhos. Acabei descobrindo que os meus olhos não eram assim tão perspicazes, que existia uma cortina encerrando eles, feitas de um pesado e grosso tecido que eu chamava de amor.
E os conselhos que ouço são os mesmos daquelas outras noites sem Lua, eles retornaram neste meu novo abobadado céu sem Astros.
Eles dizem que você não me merece. Mas não me merece por eu ser muito ou não me merece por eu ser pouco demais, pra você?
Eles dizem que muitos outros astros estão por vir, e que num lindo futuro e além, você não passará de rala e ignorável poeira cósmica... Eles acreditam que, assim como fiz com minha lua, darei as costas a você e te deixarei a iluminar um outro extremo de meu mundo que prefiro não dar muita atenção.
Eles olham pra mim e vêm uma pureza tão fajuta que nem você se convenceu, mas foi você quem a despertou.
Eles me vêm como uma abelha em busca de um pólen doce demais para mim, e com um ferrão demasiado afiado para minha pouca idade. Enfim, sou um filho de vários pais, serei o eterno bebê nos braços das Estrelas-mãe que rogam por mim caminhando por este mesmo chão que eu.
Eles me vêm como o filho que terão um dia, uma criança tão pacífica que usa ridículas abelhas, no lugar de serpentes, na hora de descrever você.
Eles me vêm como o reflexo de uma ternura que só você presenciou, que só você apreciou, que você fez pouco caso.
Eles me vêm como aquele que os deixou de lado pra ir atrás de uma esperança que tinha tudo pra falir como faliu.
Eles me viram como a criança que se fez homem num contexto tão diferente deste ao qual relato.
Eles me fizeram acreditar que mesmo contra as vontades deles eu deveria lutar pelo o que queria, assim como lutei.
Eles viram em mim o sonho duma felicidade, da mais fantasiosa delas, e que até mesmo eles começaram ver em você.
Eles foram o meu porto seguro, aquele que você não conseguiu ser.  

domingo, 2 de janeiro de 2011

Sua Estrelinha, Meu Sol...


Hoje eu acordei com cara de segunda-feira. Levitei sobre uma realidade morna e chata que nem as asfálticas galerias das grandes metrópoles conseguem oferecer.  Sentei defronte esta minha caixa tão cheia de zumbidos que contemplo toda tarde, e encarei você.
Suas feições eram as mesmas das outras tardes, sustentavam aquela mesma maledicência com cara de sábado à noite, ainda assim te olhei por um longo tempo. E aos poucos essa sua nova verdade foi adentrando na minha conformada condição: Aquele não era você.
Quando finalmente compreendi fui tomado por uma tristeza que não era daquelas que fazem a água brotar dos olhos da gente, era daquelas que fazem você sentir pena. Pena dos outros, pena de si, pena do que está por vir... Uma tristeza daquelas que você ainda consegue manter um distanciamento tão racional que me faz imaginar as vezes que não passo de um ponto luminoso no espaço, condicionado a orbitar a sua volta. Uma estrela que pede desesperada um mínimo cessar em suas reações nucleares, que pede um pouco de escuridão, que tenta abandonar o seu brilho para que os seus olhos possam ao menos uma vez enxergar as coisas como elas são.
Comecei racionalizar sim, e foi assim que me vi.
Comecei me enxergar sim, e foi assim que racionalizei.
Comecei a começar sim, e foi assim que comecei ver, ser, e raciocinar. Percebi então o pior de tudo, que mesmo depois de encontrar todas estas verdades: Eu não me arrependia de nada.
Sei que é ilógico, mas a estrelinha queria sim continuar a sua volta, queria sim ter você como um alguém a iluminar, queria sim ser a sua escrava de todas as noites cheias de outras e outras estrelas que não fossem a mim! Venha de uma vez! Venha acreditar numa integridade que só dediquei a você! Venha ser o núcleo de minha órbita! Venha de uma vez! Venha ser meu sol! ...
E nesta noite, Sentado de frente aquela mesma caixa cheia de zumbidos de todas as tardes parei e encarei a mim.
Minhas feições eram as mesmas das outras noites, sustentavam aquela mesma grandiloqüência com cara de madrugada, ainda assim me olhei por um longo tempo. E aos poucos essa minha nova verdade foi adentrando sua inconformada condição: Aquele não era eu.