terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Atestado de morte, Bula da vida.


Minha cabeça dói.
Meu corpo se deita.
Meus orifícios ameaçam esgurmitar todo meu suco cerebral!
Minhas vísceras cantarolam um mantra demoníaco!
Enquanto meus olhos reviram até enxergar o interior de meu crânio.
Dentro dele só existe um vulto resplandecente 
e impetuoso que sorri pra minha desgraça!
...Droga! Linda, forte, doce e viciante droga!
Nem mesmo na doença abandonas minha enferma cabeça?
És o vírus do qual não quero me curar,
E se existir uma cura afinal, que sejais você o médico.
És a praga da qual vale apena adoecer!
És a morte de onde o suicídio brota com prazer!
És a vacina da qual a agulha me excita!
És o termômetro que mede calores inimagináveis!
És o álcool e o algodão incapazes de esterilizar minha alma!
És uma fava amargosa, mas que cura e me faz bem.
És uma capsula poética, efervescente quando lhe é direito!
És o raio que nunca chamarei de “x”, já que você nem me enxerga!
...Droga! Linda, forte, doce e viciante droga!
Você julga ser a cura dos meus pesadelos,
Mas não vê que é na verdade a praga de meus sonhos.
Você usa de métodos nada convencionais
E quer sempre me curar pelo lado de dentro.
Você me quer dopado e estendido nos teus braços fortes,
Mas libera em mim uma adrenalina que me mantém eternamente aceso.
Você é um profissional que trata de modo prático e com agilidade,
Apesar dos efeitos de seus remédios acontecerem tardios e arrependidos.
Você me examinou de todos os ângulos possíveis,
Mas as amostras do meu sofrido sangue nunca lhes são suficiente.
...Droga! Linda, forte, doce e viciante droga!
Você que não se veste de branco;
Você que cura virtudes e chupa feridas;
Você que se automedica contra uma doença que só você vê em mim;
Você que até sabe examinar, mas febrilmente delira.
Você que sustenta um bisturi envenenado na ponta da língua;
Você que me anestesiou trazendo uma dor que nunca senti!
Mas você me faz vivo,
E eu te amo Doutor.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Preludismo primogênito

Ó progenitora,
Perdão!
Estão todos desviados,
E obstinados também.
Mas independente das cores que forem os algodões
Vou agora cuidar dos meus bilros,
Das minhas rendas,
Das minhas flores e do desabrochar dos epitélios!
As brincadeiras de roda não eram tão redondas minha querida,
E os trabalhos escolares eram na verdade cadernos de capa dura e vermelha.
As cuecas que corriam solitárias hoje temem a solidão.
E a culpa é sua...
Toda sua.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Os parágrafos do menino



Era uma vez um menino – é nessa parte que lhes dou a liberdade de escolher entre terminar de ler ou então ir vender seus corpos de maneira muito fina e digna em tuas páginas online, nisto que a gente chama de grande conglomerado de redes em escala mundial de milhões de computadores interligados pelo TCP/IP que permite o acesso a informações e todo tipo de transferência de dados (internet, para aqueles que não apelam para a Wikipédia, como eu).
Certo dia um belo dum progresso aconteceu na vida deste menino: as pessoas se sentiram confiantes em encarar o segundo parágrafo de seu texto. Ele ficou feliz, sabe. Então resolveu inventar uma historinha, pois aquela que ele pretendia contar não era muito cativante e ele temia não conseguir a atenção para um terceiro que viria.
A historinha começa assim: “Era uma vez um menino”. Daí pra frente ele começa jogar na cara de vocês o quanto são burros de continuar apreciando uma pessoa que acaba de mandar vocês irem dar a bunda. Ainda têm essa libertina, é claro – é neste ponto que você dá um sorrisinho amarelado e pensa o quanto esse menininho é genial. Não, ele não é.
O quarto parágrafo começa tentando fazer você acreditarem que ele não passa de um blogueiro estúpido metido a ser inteligente, rebelde e prepotente. Este objetivo o menino não alcança, eu sei; e ele ainda é genial, naturalmente.
No quinto parágrafo esse menininho começa a perceber que já está pra ficar meio maçante esse lance de divagar sobre parágrafos, mas daí ele se lembra que lhes deu a chance de se esquivar ainda lá em cima e pensa ligeiramente em lhes mandar vender o corpo mais uma vez, mas acha melhor não. Daí pra frente ele tenta realmente frustrar a sua beleza provando então que você está de fato lendo algo totalmente sem conteúdo, você nem se importa.
Pra manter uma estética e não ter um parágrafo muito grande ele começa um outro, o sexto, acredito. Que bonito, ele acha que vai conquistar você usando dessa displicência fajuta. Enfim, ele consegue.
Então pra não perder o costume ele pensa em criticar naturalmente as novas tribos urbanas, as redes sociais, o rock adolescente nacional, mas ele percebe que com isso vocês realmente parariam de ler e não é isso que ele quer, apesar de tentar induzir o leitor a isso. E de maneira esplendorosa ele termina a sexta pauta se contradizendo e se denunciando.
Ele acha que seria interessante finalizar num número tão auspicioso como o “7”, o numero do poder, o número do mistério, o numero de vidas de Garfield, o número de sorte da maioria das pessoas que não tem criatividade, o número de horcruxes  obtidas por Lorde Voldemort em toda sua vida depois de abandonar Hogwarts! Daí ele faz uma coisinha idiota para terminar o texto e deixar você com cara de paisagem, mirando seu LCD, com a mão descansada sobre o mouse. Antes disso ele pede para que não tirem a mão do mouse, pois seria desonesto. Pede ainda que caso ele esteja errado recoloquem a mão no mouse, isto para não frustrar suas expectativas de futuro escritor. Já firmadas todas as considerações ele então resolve desafiar vocês a parar de ler agora... Vocês não param, ele vence, ele é foda, ele é genial, ele manja... Ele não é eu. Imagina!