sábado, 30 de outubro de 2010

Um sopro da madrugada, uma chuva sem vento...


Como é bom ouvir sua voz, como um sopro da madrugada que me arrepia e me descarna, me acalenta e me sacode,me faz sonhar com um amanhã mais real. Como é difícil acreditar que numa realidade tão irreal e linda, tão complexa e chula e tão imperfeitamente perfeita. E como é bom descrever esta mesma realidade com palavras bobas, com poemas infantis, com frases assumidamente clichês.
Não eu não preciso de pompas, brincos e colarinhos para descrever uma coisa tão simples, simplesmente complexa. Não eu não preciso que ninguém aprove ou aprecie as minhas tolas expressões controvertidas. Deixem-me em paz caminhar sobre este rio de lágrimas alegres, pela calçada das causas impossíveis, pela esquina dos prós e dos contras, por este mundo cheio de suspiros que eu já não me lembrava mais. Deixem-me então remeter às letras do passado.
“Três longos anos... três almas loucas... três lindas bocas que se estalaram juntas num só bitocar”
É isso! Podem dizer que tudo isso não passa de banal auto-afirmação, pois então que seja! Mas eu já tenho as minhas certezas, primeiramente a certeza de que não é algo proposital... Pois afirmar o que? A meu ver o amor não é algo que tenha que ser provado, não é um objeto que se submete submisso as proporções e conclusões do método, nem as atribuições da prática, mas sim as certezas obtidas através de um decorrer simples e corriqueiro. É neste universo das verdades empíricas que se descobrem os verdadeiros amores... Assim como os falsos.
O amor, assim como Deus, assim como a arte, não é feito para ser compreendido, mas sim contemplado e, nos enfins das descobertas, amado.
Que coisa bonita, não? “Amar o amor!”

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Doce trinado.



E eu já estava preparado para suspirar!
Era meu maior talento... Suspirar.
Foi tão bom mais uma vez ouvir o canto da reconciliação.
O hino das palavras bonitas, dos olhos aguados,
A melodia de um doce trinado de cinco notas transversais,
Elas que eu as absorvia e as deixava ressonar dentro do meu corpo.
...E dentro de mim não só as notas,
Os dotes, aliás, talvez ou também.

Você me faz feliz... Ou simplesmente tenta e, afinal, consegue.

Oi meu bem...






Oi meu bem... Como você está?


Estou do jeito que você me deixou,
Deixou-me deixado.
Eu tenho medo,
Eu tenho frio,
Eu tenho um cãozinho largado e sujo ronronando aos meus pés.
Eu tenho medo de olhar nos olhos dele,
De reconhecer espinhos,
De deixá-lo coberto de lenços molhados,
De olhar pra ele e enxergar você.

Oi meu bem... Como foi o seu dia?

Foi com cara de noite,
Janelas fechadas,
Olhos embaçados,
Sorrisos forçados e palavras doloridas numa parte indistinta.
Saiam rasgadas, embaladas por uma película de água e sal,
E pareciam levar consigo um pouco de minhas entranhas,
Uma porcentagem dos meus órgãos, como se faltasse uma parte essencial...
Digo apenas que meu peito parecia estar muito silencioso neste dia,
E basta.

Oi meu bem... Como vai sua vida?

Minha vida meu bem?
Minha vida anda meio inconstante!
Às vezes ela acorda sufocada por lábios que não são meus!
Por palavras que não são minhas!
Por imediações que não deveriam ser suas...
A minha vida não é capaz de sobreviver apenas dentro de mim,
Precisa de um pouco de adrenalina pra manter o sangue sempre quente,
O corpo sempre rijo,
A mente sempre ocupada!

Oi meu bem... Como vai...

Como eu vou?
Eu não vou a lugar nenhum!
Mesmo que tenha falido o nosso plano infalível...
MAS QUAL PLANO INFALÍVEL ERA ESTE QUE EU NÃO CONHECIA?!
Não, meu bem, não!
Coisas infalíveis não têm valor!
O medo da perca é quem traz o mérito do ganho!
Não é a água quem faz o banho,
É na verdade o sabão...

Oi meu bem... somente “oi” desta vez...

Se escorregar fizesse fim às histórias talvez nem vivos estivéssemos.
Se morrer fizesse fim à vida talvez não existisse Deus,
Se as despedidas consumassem os desencontros talvez não existissem navios...
É, meu bem, este seu universo sem fé nos homens está um tanto quanto... Gritante.
Hoje, neste dia com cara de noite eu novamente entoarei o brado:
“Acorda!”
“Foi-se o tempo dos deslumbres de criança, pelo amor de Deus, olhe na minha cara e vê!”
Independem as carências e as querências,
Quero você pra mim.

Partículas em suspensão






Escute... Eu não consigo mais.

Existe uma cobrança,
Uma aliança que teme o momento da consumação,
Uns dedos curtos,
Uma mão quente,
Um tocar febril...
Um medo vagabundo da correspondência de fato,
Uma vontade de agarrar e ser agarrado sem cerimônia,
Sem pompas,
Sem dores...

Acorda!
Olha na minha cara e vê!
Já não é mais uma pélvis carente!
Já não é mais um sorriso acuado!
Já não é mais uma simples vontade de saciar a bunda das pessoas...
É uma força muito mais complexa e linda...
Linda, meu bem, linda!
Por favor, não deixe que uma quinzena de dores se transforme numa quarentena de soluços...
Eu me entreguei à verdade desta vez!
Eu me entreguei por um surto de irresponsabilidade e prazer!

Mas é sincero, acredite, é sincero!
É uma entrega irresponsável, mas que eu quero pra mim e para sempre!
Foi-se o tempo dos deslumbres de criança, pelo amor de Deus, olhe na minha cara e vê!
Te quero pra mim independente das formas, das dores e das cores...
Eu quero construir uma fortaleza sobre os teus ombros,
Um castelo de areia que nem a mais alta maré poderá derrubar!
Pois não são areias dos desgastes nas quebras das ondas,
É na verdade a poeira cósmica do acaso destinado que nos fez sentir um ao outro,
São nossas partículas em suspensão, os prismas de suor e saliva, o cheiro das noites quentes...
Quero eu ser o seu porto seguro... Lembra?

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

...






“ah, mas se a prole soubesse das porras dela, se ei eu de por os seus bofes na rua, se soubessem cada renda, cada bunda, cada centímetro uterinos que este chão batido já contemplou e lambeu... lambeu... lambeu...”

Medos, cavalos e promessas descomprometidas



Confesso, tive medo.
Mas uma sensação estranha trotava lamuriosa e tensa dentro de meu estômago,
Ou de minha mente, não sei.
Ou de sua mente, não sei.
Ou da mente de alheios, não sei.
Senti um galopar de dedos presunçosos que perseguiam meus rins
E uma marcha sinuosa que encontrava meus fluidos e descia lentamente por uma encosta talhada em rubis.

Confesso, tive medo.
Eram muitos os passantes,
E também os fumeados e os contemplantes.
Ah! Pobres granitos!
Lustrosos corrimãos!
Alva e lúcida porcelana!
Felizes deles que não tinham olhos...  E nem narinas.

Confesso, tive medo.
Medo de toques que tanto me atentam e me fazem satisfeito,
Medos que talvez nem fossem só meus,
Medos que nos levaram desesperados as escuras,
Medos que fizeram nascer dores, arranhões e culpas,
Medos que fazem acender outros medos
E que fazem apagar outras certezas.

Cumpra por favor! Cumpra!
Abandone os medos!
Ou pelo menos os reprima, os condense, os guarde em uma canastra de veludo cor-de-beijos...
E os entregue para mim.
Faça! Cumpra!
Se entregue de corpo inteiro assim como prometeu!
Nem sei se foi uma promessa, mas... Cumpra.   

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Sabe irmão...


Sabe irmão... Sei... Sabe que... Sim eu sei... Então porque me judias... Gosto... Só gosta?... Amo... Sabe que mamãe não deixa... Foda-se... Nem xingar!....Mamãe não está aqui.
... Ó por quantas humilhações passou Jesus... Mas... Ao se submeter à flagelação... Ah!... Calvário... Ah!!!... Caniço... Ah!... Os mais altos dignitários... Nem sei falar essa palavra! ... Dignitários... Almas... A mansão dos mortos... Somos dois!...O terceiro dia... Flagelação... Flagelação... Flagelação...família.

Gerúndio [conclusão]


Gerúndio: é a designação substituída pela nomenclatura gramatical portuguesa; Gerúndio é uma forma nominal de um verbo e não um modo como pensam alguns. Gerúndio é uma forma verbal invariável.
Eu sou Gerúndio, sou invariavelmente imutável, nasci como um desgraçado e como um desgraçado terminei. Eu fiz coisas ruins, eu fiz... a primeira delas foi nascer, a segunda foi viver e a terceira foi morrer sem ter concertado tudo.
Eu já tive infância sabe... E era bom.
Eu também já fui jovem, sabe... E era bom.
Eu matei um homem... E era bom.
Eu experimentei coisas e práticas que até Deus duvida... E era bom..
Eu tive sentimentos e deles fiz ação! Tive ódio e matei. Tive amor e amei.Fiquei triste e chorei. Tive medo e tremi. E na alegria sorri.
Mas ao menos eu tenho certeza de que sou original, de que não me deixei mudar levianamente em prol de um senso comum estúpido e preconceituoso, eu não deixei que o mundo me transformasse numa máquina sem coração. A mídia estampa na TV: traiam seus maridos, é, isso é engraçadinho, apimenta a relação e sabe-se lá mais o que. Mostre sua bunda no final do mês de fevereiro, isso é cultura, é arte, é folia. Tshshshshsh... abra a felicidade você também! Já comece o novo ano enchendo a cara, pois hoje é o novo dia de um novo tempo que começou, e nestes novos dias as alegrias serão de todos... é só querer, pois os novos sonhos já são verdade, o futuro já começou!... o futuro já começou.

É no ano de 3012 e o apocalipse ainda não aconteceu.
Meu nome é Nicolau Gerúndio, tenho mil e doze anos de idade, odeio cebola... Eu sou o ultimo ser humano do mundo... eu não sou uma maquina!

Gerúndio [introdução da peça]


“É o ano de 3012 e o apocalipse ainda não aconteceu...muito bem... obrigado.
Sim, ainda existem pessoas boas no mundo... Ainda existe água potável... Bem... Reciclagem de urina.
E realmente existiu vida em Marte.

Mas nada de pânico.

As calotas polares foram recongeladas artificialmente com a ajuda de uma máquina criada por um estudioso polonês em 2078 e, consequentemente, os clones dos pinguins e ursos brancos já estão curtindo a neve por lá...
A terceira e a quarta guerras mundiais aconteceram rápidas... Os estragos já foram sanados... bem... a Coréia do Norte já não existe, se explodiu há alguns anos –  guerra é uma coisa tensa sabe.
Agora peidar alto é crime... Apesar de que peidos silenciosos... Nada.
É, Fora isso, está tudo como antes. Morno, quente e chato, feito casamento de gente rica. Não foram mudanças muito... Muito drásticas, eu diria. Só uns carros voadores, um SPA na lua, descobrimento de um novo sistema planetário para dar uma inovada... A descoberta de que Michael Jackson havia simulado a própria morte e que na verdade estava curtindo a vida na ilhas marianas...

Mas, mesmo que as mudanças não tenham sido drásticas, elas aconteceram. As pessoas mudaram, morreram, fizeram cirurgias plásticas. O mundo mudou, ficou mais quente, mais rico, mais mesquinho... só eu que não mudei... não envelheci... não morri.
E já não existem mais araras nem em zoológico. É mais comum ver um OVNI no céu do que estrelas, e às vezes até a lua. Já não existe mais efeito estufa... Passamos pelo efeito sauna e agora estamos convivendo harmoniosos com o efeito torradeira.
 As variedades de gripe agora vão desde suínas, passando por bovinas e quase alcançando as eqüinas; além de uma novidade desgraçada: câncer de cabelo.
 Entretanto, compensando, descobriram a cura da AIDS. É claro que a vacina custa o olho da cara – o capitalismo é um saco de bosta, ou melhorando, um saco de dólares sujos da mais grumosa das escretas, isso sim!
E agora! O mais louvável, o excepcional, o trivial: 89,012% da população mundial é obesa – o restante ou é anorexo, ou é desnutrido, ou morre de fome na África .
“Muito bem, meu nome é Nicolau Gerúndio, tenho mil e doze anos de idade, odeio cebola... Eu sou o ultimo ser humano do mundo. ’’