quinta-feira, 13 de outubro de 2011

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Meia noite. Sinto-me pairando no limbo entre o ontem e o amanhã. Na tenuidade do tempo vejo-me amando um futuro que desconheço, vislumbrando um passado imorredouro, concomitando com um presente momentâneo e morno. Aliás, morto.
Meia noite e um. Já me sinto mais aliviado. Vivo. É quando o qüinquagésimo nono “tic” e o sexagésimo “tac” do relógio se efetivam no silêncio. É quando um sopro de perseverança desce sobre este meu corpo que dorme.  É quando meus pesadelos podem voltar a sonhar. É a certeza de um novo dia.
Meia noite e... Merda, o ponteiro pequeno parou. Não importa. Três. Quatro. Não, Três. Talvez quatro. Meia noite e cinco afinal, pra não dar briga. Mas o que são cinco minutos na vida de uma pessoa? Um café. Um miojo. Um atraso educado. Enfim.
Meia noite e seis. Eu acho. Certamente. Pronto, já me sinto menos inútil. Seis é melhor que cinco ou quatro, transmite firmeza, austeridade. Seis é bom, é ótimo o tal do seis. Ótimo. Otimíssimo. A quem quero enganar? Melhor parar de contar, me deixa melancólico a demasia. Veja só o que já rascunhei. Poxa. Seis minutos são suficientes para ser poeta.
Meia noite e sete. Sete é um bom número, poderoso, místico. Gosto do sete. Considerando, porém, que eu tenha demorado um tanto ao contar o seis ou o quatro, já deve ser meia noite e oito. Ou nove. Oito, mais provavelmente. Oito não, oras, oito engorda. Nove. Estou certo de que são meia noite e nove. Provavelmente.
Meia noite e dez. Legal, sinto que estamos dez minutos mais próximos do dia de amanhã. Sim, é claro. É certo. É ridículo. Alguém me parabenize por essa descoberta pífia. Francamente. Acho que o sereno está afetando minha inteligência. Está afetando meu eu-lírico também. Veja como está empobrecido o meu protótipo de lirismo!  Lamentável! Indubitavelmente lamentável! Desisto de ser poeta, a moda agora é ser relojoeiro.
Meia noite e eu. Curioso. Muitíssimo curioso. Fui mesmo eu quem escreveu isto? Nestas palavras cronometrei um tempo que ponteiros não podem apontar. Que afronta! Estou desmerecido dessa honra que nunca tive, desse tempo que nunca vivi. Nem dez minutos de epifanias noturnas, nem dez anos de profunda introspecção me salvarão do tiquetaquear da rotina. Madrugada ordinária. Se não posso ser poeta e nem relojoeiro hei de ser o que? Hei de ser um rotineiro. Acho digno. Acho nada. A rotina é meu fardo e o conformismo é minha missão na terra, isso sim. Meia noite e meia. Droga, vou já pra cama. Devo acordar cedo amanhã.



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