quinta-feira, 3 de maio de 2012

Ciranda



Todas as vezes que o sol se põe, eu me ponho junto. Junto das manhãs que ainda estão por nascer e junto dos bom dia que ainda hão de ser sussurrados, fracos e encharcados de desânimo. Com os boa noite lisonjeiros já não me preocupo. Sei que todas as noites são perfeitas, pois a perfeição é um círculo, ora, tal belo círculo banhado de negro.
Todas as vezes que o sol se levanta, eu me levanto junto.  Junto das pessoas que estão por viver e junto das vidas que nunca foram vividas, engessadas e esculpidas na brutalidade do tédio. Com o mormaço carniceiro já não me preocupo. Sei que todos os raios do sol são perfeitos, fios translúcidos e retilíneos que flecham sem abrir ferida, sem uma só gota de sangue derramar.
Todas as vezes, porém, que o sol faz-se rente no topo do céu, queima sobre os meus ombros cansados o peso morto de alguém que nunca sentiu o cheiro da morte. Com o comprimento da vida já não me preocupo. Sei que todo o meu viver sempre foi e sempre será perfeito, pois a perfeição é um círculo, e a vida uma vez me contou que adora brincar de roda. Sozinha. 

2 comentários:

  1. É isso aí! bons dias e boas noites já não são mais suficientes. Uma noite perfeita pra você!

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  2. Texto interessante, com um espírito diria bem poético, existe um certo largamento quanto a maneira dizer mas inda assim percebo que diz com categoria o que quer dizer na expressão do que decerto o convém, uma filosofia bem realista e intimista teu escrito, lembrou-me Clarisse Lispector com pitadas de Saramago, muito bom,

    um cordial abraço, Luiz.

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