Não espere a verdade, espere palavras. Acredite no
que lhe convier, posto que a verdade é aquilo que acreditas. Não tente achar a
mentira, ora, pois inexistente é a sua natureza. Deveria eu dizer que a mentira
é apenas mais uma das possíveis formas de se dizer a verdade, mas não direi,
estaria mentindo, pois é de conhecimento que a verdade não é dita, ela é construída,
assim como todas as coisas do mundo real. A mentira é, por sua vez, uma dádiva
pra quem sabe consumi-la com desdém, tal como a verdade é um estorvo pra quem se
acostumou em se ater somente nela. Filtre, deturpe, ignore, e jamais use o tom
imperativo ao despejar suas autênticas inverdades no ouvido das outras pessoas.
Desse pecado já me absolvo, oh, divina conveniência, pois tudo posso naquela
que me fortalece: a hipocrisia – a virgem mais pura, a poesia mais dura, a
elementar das elementais falácias do homem. Hipócritas são aqueles que a negam
com fervor, blasfemadores contra a própria essência, estupradores da própria
inocência e carcereiros da própria sepultura. Salve a incoerência e a redundância,
pois escoradas nelas viveram os homens mais importantes do universo: aqueles
que nunca chegaram a nascer. Felizes daqueles que tiveram de comer do pão que o
diabo amassou para perceber que ele jamais existiu, e daqueles que precisaram
subir aos céus para aprender que nossa última e única morada é a terra, pois
santos são os homens que se permitiram ungir numa benção cujo poder não faz
questão de fiéis ou escolhidos: A existência – a única deusa que não necessita
da fé dos tolos para governar sobre o tudo, sobre o todo e sobre mim.
Os mais hábeis sofismáticos estão no poder e nada podemos fazer. E quer saber a verdade? Parabéns pelo texto.
ResponderExcluirFico espantado com suas elaborações poéticas sobre questões tão fugazes: verdade, mentira, hipocrisia e existência... artistas como você fazem perene o efêmero e absoluto o relativo...abraço apertado.
ResponderExcluirDEUSIMAR