Ei, garçom
Dê-me uma dose de lágrimas
Daquelas bem caprichadas
Choradas por um amor que morreu
Traga também um isqueiro
E um palheiro pra tragar os sonhos
Um saleiro pra salgar a alma
Que o pranto dessalificou
Traga também o bilhete
Que o moço bonito nunca me escreveu
E diga a ele que eu aceito
O seu pedido de casamento
Diga ao dono do bar
Que hoje eu mesma fecho as portas
Coloco o lixo pra fora
E vou com ele quando o caminhão passar
Chame aquele mendigo
Dê a ele os meus sapatos novos
Para ele caminhar meus passos
E deixar a sarjeta pra mim
Peça àquela senhora
Que fala da vida do povo
Que venha me falar da minha
Pois de minha história eu esqueci
Traga também outro copo
Sente-se e beba comigo
E chore para eu ter a certeza
Que meu sofrimento é maior que o teu
Por favor, desligue a vitrola
Todas as músicas me fazem lembrar
Do homem que deixou de cantar
Juras de amor por mim
Faça-me uma cortesia
Um gracejo, um beijo, sei lá
Apenas me faça acreditar
Que eu ainda sou moça bonita
Venha, aceite a gorjeta
Não é muito coisa, eu sei
Mas assim como meu despudor
É concedida de boa vontade
Espie, meu copo secou
As cinzas se esfriaram todas
Acho que é hora de voltar pra casa
Tenho outras lágrimas pra
engarrafar.
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