terça-feira, 24 de abril de 2012

Tardia Oblação



Eis que uiva, dilacerado, o meu amor
Laboriosa ladainha em tom de pajelança
A mourejar o coração que jamais descansa
Que vassala em nome de um bel senhor

Pobre de mim, apaixonado
Pois a paixão fez-se rica, soberana
Mesmo que, porém, tão linda, fez-se insana
No dia em que me fiz enamorado

Pobre da rima, enamorada
Pois cada verso fez-se uno, solitário
Como em suma alegria, porém ao contrário
Contrariando cada estrofe apaixonada

Eis que silencio, condenado, o meu despudor
Jocosa arrelia, feito os gemidos de uma criança
Pois hoje só se ouve os ruídos da matança
Que escarnece e assassina o último dono do meu amor.

5 comentários:

  1. Lindo poema. Que final triste! Mas um bom advogado te livra desse crime passional.

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  2. Seus versos: ladainhas despudoradamente apaixonadas, dilacerantes gemidos que fazem de cada palavra uma ladainha em si...repetindo o que desconhecemos e por isso sempre fascinantes...ME ENCANTAM!

    DEUSIMAR

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  3. Bom pra começar eu adorei seu poema... Seu tom confessional se mistura ao de um eu lírico escarnioso em relação ao amor, mas isso é ao fato do amor ser dual entre sofrimento e benevolências... Muito bom!

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  4. depois de cavalgar por horas numa muriçoca, não fui à uma festa a qual fui convidado...páginas vazias guardavam mistérios nunca imaginados e lá me foram lidos os autos da morte do ícaro, pobre diabo. saindo das costas dela resolvi andar de carro e por um momento me distraí. não lembro se foi com o céu ou com o chão.. só lembro que uma forte luz se aproximou e não demorou eu estava no hospital geral, no leito 2 do quarto 703, cheio de máquinas ao meu redor e no prontuário tinha: coração quebrado e mente deslocada; tempo de recuperação indeterminado. não conseguia me mexer mas tinha uma TV que dava pra assistir.. no new york times os astronomos da NASA anunciavam que tentariam uma viagem tripulada ao lado escuro da lua, a lua velada.. bom, sou amante da filosofia mas o espaço - universo me intriga bastante. fiquei ali, deitado e pensando sobre tudo.. sobre a carencia de um sorriso, sobre a felicidade que um dia me escorreu pelos dedos, sobre meus sonhos.. Ah, meus sonhos. alguém os pisou um dia assim como isso que eu nao sei o que me pisou quando eu estava distraído me trazendo pra esse quarto. semanas a fio e eu estava voltando... agora ja consigo sentar, conversar sem cansar, escrever! pedi à enfermeira um caderno velho e uma caneta mas quando tentei escrever nada saía...lembrei entao que um "amigo" costumava me dizer que os primeiros versos se agarram em nossos dedos se recusando a se transformar em carne. mesmo assim cortei meus dedos e preguei os versos no papel. e isso me fazia lembrar o quão "Inominável é o vazio que assola meu peito, me fazendo proferir palavras que não convinham ser lidas por olhos humanos." Dias e mais dias se passaram e então recebo liberação para ir para casa. isso nao diz que eu esteja bem, mas que eu posso continuar me recuperando sozinho. ao caminho de casa olhei para o céu e fiquei desnorteado por um momento pela dor de admitir que minha vida, ao contrario da vida de meu "amigo" esta inerte, em coma lá no quarto 703. sem verde, sem chão. daí um tufão de perguntas e sensações me invadiram e eu comecei a questionar todo o real tempo que ali eu estava... será que foram apenas 6 meses? um ano? meu deus meu deus! aonde estavam minhas memórias? o pânico era profundo e o sentimento de vazio ia crescendo "Pois as memórias que hoje me visitam, espetaculosas, são as daquelas noites em que trocei sorrisos e juras naqueles olhos admiradores..." mas tudo isso antes de eu olhar para o maldito chão ou céu naquela estrada que me acidentaram. Estou perdido pois perdi um espaço que não sei se realmente tive, confesso, e nao sei por onde me esgueirar... fico então no nada, eu, a lua, o caderno, o céu e a rua numa rima pobre em prosa sem verso que condena os apaixonados e destrói o "eu" enamorado.

    P.S.: . . .

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  5. qual o nome da pintura a cima do poema

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