E quando a distância é medida em anos luz, porém a sombra da
solidão é contada em horas infinitas? Me sinto só, feito uma estrela encrustada
numa galáxia longínqua, ladeada por suas milionésimas companheiras cintilantes,
companheiras cuja distância era maior que o alcance de seus raios de
resplandecência e pureza. Não é à toa que o universo é composto por gotículas
de luz pintalgadas na escuridão, e não por pontos de negro goticulados na
brancura. As trevas não passam de um pretexto de Deus pra que um dia eu pudesse
brilhar.
Feito estrela, brilhei. Mas a sideral distância do teu brilho ao
meu ofuscou toda e qualquer possibilidade de abrasão, abandonando-me na
frialdade do desejo, desalentando-te na solidez do impalpável. Sem poder
tocar-te, alentei-me no conspurco da carência, varzendo meus fluidos em tua homenagem.
Não podendo ter-te, desconsegui-me na saudade daquilo que nunca tive,
alimentando a lembrança de coisas que não vivi e que talvez nunca chegue a
viver.
Sob a sombra da realidade, no entanto, obrigo-me a admitir que
deuses, estrelas e futuros são apenas suposições, bravatas arremessadas ao
vento. E eu sei: o vento que te refresca nas tardes de calor é mesmo que me acaricia
nas noites de solidão, brisa mensageira que viaja por milhas no intuito de me
fazer relembrar do seu cheiro perdido na distância. Distância, inescrupulosa
distância, o que esperas de mim se tua única oferta é o vazio? Enfureço-me com
as ironias desse destino escrito torto por linhas retas, retas demais para que
eu pudesse percorrê-las, torto demais para que eu pudesse endireita-lo.
Mas o que existe entre nós, compreendi por fim, não são caminhos
retilíneos, tampouco destinos tortuosos. O que nos resta é caminhar por uma
estrada sem margem, sem de onde sair nem aonde chegar. Entreguemos, de bom
grado e com paciência, a nossa história nas mãos rudes do acaso, para que um
dia nossos passos desbaratados tracem uma trajetória em que nossos caminhos talvez se
cruzem. E quando esse dia chegar, aí sim vamos descobrir se o que viveremos
juntos será o talvez, o sempre ou o nunca.
Doravante, enquanto o acaso adormece no túmulo dos substantivos inconcretos,
vou substantivando os versos escritos na mesma grafia do teu nome, um nome tão
comum quanto um amor que nunca se sentiu. Quero que sejas para mim como um
beijo distante do qual ainda sinto saudade, mas que carregue nessa saudade a promessa
de um reencontro. Afora as promessas, vou jurando a mim mesmo que a vida pode
continuar, que os sorrisos ainda podem ser sorridos, que os amores ainda podem
ser vividos. E no torpor da esperança, vou segredando meus sentimentos às
paredes, minhas mais sinceras e silenciosas companheiras. Pois assim como a
tua, minha casa é muito grande para mim.
Belo texto - brilho que não ofusca a visão, cheio de distancias que não impedem a aproximação, palavras enchutas mas não ressecadas de estelidade prolixa...parece que vieram de vários lugares e não só do coração, da mente, da alma...outros lugares! Bom abraço
ResponderExcluirDeusimar
Revisando o comentário anterior, escrito sob a adrenalina do impacto do texto do MARCOS PAULO:
ResponderExcluirBelo texto - brilho que não ofusca a visão, cheio de distâncias que não impedem a aproximação, palavras enxutas, mas não ressecadas de esterilidade prolixa... Parece que vieram de vários lugares e não só do coração, da mente, da alma... Outros lugares! Bom abraço
DEUSIMAR
Lindo texto, mas preocupante.
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