quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Lua Velada


Naquele dia, aliás, naquela noite, tínhamos combinado de ver a lua juntos. A lua, porém, orgulhosa como só ela sabe ser, escondeu-se por de trás das nuvens, deixando a entender que não éramos dignos de contemplá-la. As nuvens, por sua vez, ficaram tristes ao ver nossos olhos mirando um céu vazio e comoveram-se copiosas chorando por sobre a face da terra. Depois de desaguadas, então, a lua se surpreendeu nua e descoberta deslizando pelo céu, ostentando uma brancura petulante, ignorando nossos beijos e nossas gargalhadas triunfais.
Nos outros dias, antes que a lua se arredondasse de todo e me trouxesse você, estivera eu mergulhado numa apatia monstruosa. Ora, as piadas continuavam engraçadas, porém não tinham mais o poder de me fazer gargalhar. Mas naquela noite não, naquela noite banhada pela lunar petulância não, naquela noite eu deixei que os risos me arrombassem a garganta e que as lágrimas me explodissem nos olhos, como que uivando em homenagem a velha gorda e pálida que pairava luminosa no topo do céu. E os sorrisos, tão brancos quanto, me escapuliram sem o menor pudor. Mérito seu, deve-se admitir.  
E as gargalhadas, já desenferrujadas, só se calaram quando confrontadas ao silêncio dos beijos, que deslizaram gananciosos pelos meus lábios, fazendo-os avermelhar. Eram beijos orvalhados como uma fruta colhida pela manhã, enérgicos como as carícias da juventude e fortes como a segurança da maturidade. Ora gelados, ora enluarados. Às vezes desencontrados, negando fogo e cedendo carícias. O fogo negado, no entanto, fazia-se flamejante quando concedido, queimando-nos por inteiro e nos fazendo agonizar em labaredas de irresponsabilidade. Lindas labaredas, carinhosas como tuas mãos macias.
Meu corpo, tolo e sedento, arrepiava ao mínimo toque, respondia ao mínimo movimento, gracioso e inigualável. Teu corpo, forte e hirsuto, me envolvia no máximo sonho, preenchia-me no fálico intento, carinhoso e incansável. Incansável era o ardor que ardia em meu peito, incandescente como o sol da meia-noite. E a dita metade da noite chegou sem ser convidada, me alertando sobre o momento de voltar ao mundo real, onde as nuvens não choram e as camas são vazias. Mútuo era o pesar em nossos olhos que desejavam se reencontrar na manhã seguinte. Mas ainda assim sorrimos a guisa de boa noite, e dormimos separados carregando os resíduos de um lindo sonho, partículas de saliva e suor um do outro, e respirando os raios do luar que outrora nos amaldiçoara, mas que agora velava o nosso adormecer.  

2 comentários:

  1. Reli e foi como se estivesse lendo pela primeira vez. Desta vez me ficou o "arrepio" de uma voz apaixonada que nos conta uma realidade inventada...
    Deusimar

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