segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Flor de Couro


Efêmero é o amor. Fazê-lo. E a virgindade se esfacela e novamente se refaz. Sem anúncio ele arromba, se hospeda e se farta e se vai sem despedidas. Quando silenciam os gemidos fica fácil perceber o imperceptível que sibila nos ouvidos enamorados, que somos tão virgens quanto nossos pais. Que ao estender os lençóis somos tão puros como nunca fomos. E que ao fechar a braguilha somos imaculadamente santos, como foram Eva e Adão.
Caminhamos pela rua sem recordações do cheiro salgado que abandonamos e trancamos ao passar pela última porta. As pernas, nem trêmulas, nem bambas, trotam como se fossem sempre sóbrias assim. Os olhos, nem molhados, nem revirados, já se atentam a possibilidade de se apaixonar outra vez. Os corpos, nem suados, nem desnudos, trombam na displicência de cada esquina, se afundam na morbidez de cada cama, como se a rotina os preenchesse como nenhuma outra coisa. 
Na efervescência do efêmero, cujo nome nem escorre e nem discorre por aqui, os seres afirmam a vida a qual renegam com toda a hipocrisia que são capazes de proferir. No resvalo do mesmo, se comportam como se fossem leigos no assunto, agindo, porém, como profissionais. Ejaculam mentiras, lubrificam verdades, metem a realidade garganta a dentro.
Mas no fundo do peito, ou doutra parte qualquer, há um grito arraigado que não cessa. Um desejo jocoso, um quasar monstruoso, que sacode a grade que nos tranca por trás. Na realidade do insano já floresce uma flor que jamais foi regada, a verdade humana outrora atada, a beleza que o hipócrita não sabe enxergar. Da hipocrisia, cujo intuito realmente escorre e discorre por aqui, não há muito o que dizer pois é tão natural quanto as verdades que clamo. Tão elementar quanto.
E da clemente elemental de que lhes falo, da flor que germina sem medo, do monstro que só quer acariciar, do grito que só quer encantar, desse encanto todo, só posso dizer que não o nego. Minha flor eu rego e cultivo, meu mostro eu alimento, meu grito eu entôo sem receios. A flor só quer ser aceita. A flor só quer aceitar. A flor só quer ser vivida. A flor só quer avivar. A flor não tem nome, mas pros íntimos tem apelido. A flor não tem dono, mas os donos têm flor. A flor nem sabe o que quer, só sabe que quer florescer. Sem flores. Sem dores. 

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