Mandei caiar o barraco onde eu durmo. Ficou bonitinha, charmosa, a minha casinha de avó. Dava pra sentir o cheiro de cavalos mansos, das florzinhas de peitoril. Dava pra enxergar o vento que fazia uma curva oriunda e que, de pirraça, desorganizava os fios grisalhos da minha cabeça. Ao longe se via as luzes âmbar de uma cidadezinha habitada pelo pecado, atarracada de compridas chaminés de barro que exalavam a maledicência daqueles homens solteiros.
Mas o amarelo do meu caiado era mais valioso. Meu resguardo esnobado. Meu sacrário tão sisudo. As folhas que eu varro da porta não carregam o cheiro daquelas florestas do sul, me trazem lembranças de um norte que não lembro ter vivido; Pois minhas mechas brancas têm histórias pra contar, só não sei quantas. Sentado na cadeira que manca, elas resvalam na minha cabeça me forçando a acreditar num passado que passou sem eu ter visto. Quando me dei conta o presente era cinzento e minha vida cavalgava acometida por um tom sépia que, a princípio, muito me assustou. Mas meu caiado amarelo agora me protege. Pelo menos é o que acredito.
Quando ouvi tua sandália pisar o alpendre chapiscado, o amarelo que me envolvia agonizou e se soltou dos rodapés, tamborilando e se amontoando no chão, feitos uma carapaça que se quebra. Mas a minha ainda estava ali, dura e pesada guardando minhas costas. Ah! Uma maçaneta que gira, um suspiro que arromba, uma voz grave que chama. Fascínio. E meu caiado desfaleceu sobre nossas cabeças. E a pancada que me derrubou proclamou um estrondo que dizia com todas as letras: Eu amo você.
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