Era um menino feito de luz. Tão meiga e clara luz, macia e amigável luz, querida e tão amada luz. Mas ele a renegava. O menininho iluminado gastou metade de sua curta vida construindo um guarda-sol em torno do próprio umbigo e multiplicou pedaços do seu longo tempo construindo um caminho de tijolos tão vermelhos quanto o sangue que ritmava seu coraçãozinho enobrecido; porém, a luz lhe escapava e seu caminho era reto demais, era estreito demais, era lindo demais, errado demais.
No sufoco de seu umbigo resguardado a escuridão brotou de um âmago que não existia, ordinário âmago, mas que lhe era muito mais conveniente. Sem olhar pra frente, sem olhar pra trás, ele destijolou seu caminho como quem debulha um milho carunchado, e se deitou sobre o pavimento lacrimoso que ele chamava de lar.
“Puta que pariu!”, gritavam as estrelas que ele tanto admirava; mas teus ouvidos só ouviam os cochichos pretensiosos da Estrela Anã. “Venha cá!”, bradou uma constelação mais auspiciosa que dançava ao lado...
Eu sei que ele queria vir! Mas ele atolou em sua estrada debulhada e carunchada e não conseguiu me alcançar. Ao berrar em sua caligrafia garranchosa eu vi o guarda-sol se romper e ele se afogar na resplandecência da alma que carregava no peito. Naquela escuridão iluminada e infinita ele ouviu alguém que segurava o seu braço direito e dizia: “É seu o caminho, são seus os esconderijos. Mas quem caminhará contigo e quem será o pegador nesta sua brincadeira de esconder?”
E ao crocitante rock’n’roll de “Sopor Aeternus”, seguimos, nós dois, para sentar no muro azulado e grafitado de todas as segundas-feiras. Ele, chorando. Eu, enxugando; segurando a solidez rarefeita de suas frias mãos, afinal... Era um menino feito de luz.
Que texto lindo!
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