terça-feira, 19 de julho de 2011

A citarística do filho de Jó


Eu amo.
Até mesmo as gralhas que furtam lavouras que não plantei
Até mesmo os lobos que comem os homens que nunca amei
Até mesmo as flores dos pálidos frutos que não reguei
Eu amo.

Eu temo.
Até mesmo as falhas que nem foram lavadas do coração
Até mesmo o lixo que cobre a fossa que não cavei
Até mesmo estes  flocos da neve gelada que nunca caiu
Eu temo.

Eu quero.
Até mesmo as falhas dos furtos que não falhei
Até mesmo os lobos da lua que não minguou
Até mesmo os pálidos flocos que eu nunca vi
Eu quero.

Eu sinto.
Até mesmo os frutos furtados que me fartei
Até mesmo os homens na fossa que enterrei
Até mesmo a palidez que feito seiva escorreu
Eu sinto.

Eu sei.
Até mesmo o cheiro das flores que nunca cheirei
Até mesmo o gosto dos homens que nunca comi
Até mesmo a brancura do branco que nunca vesti
Eu sei.

Eu sou.
Até mesmo aquele que nunca nasceu
Até mesmo o filho daquela que nunca pariu
Até mesmo o reflexo do homem que nunca se viu
Eu sou.

Eu tenho.
Até mesmo a herança do velho que nunca morreu
Até mesmo a senha do cofre que nunca se abriu
Até mesmo as jóias da rainha que não coroei
Eu tenho.

Eu posso.
Até mesmo habitar o planeta que nunca orbitei
Até mesmo amar a donzela que nunca salvei
Até mesmo alcançar o infinito que sempre alcancei
Eu posso.

Eu amo.
Até mesmo a donzela insossa que nunca olhei
Até mesmo a brancura do preto que sempre vesti
Até mesmo aquele abraço amigo que não procuro em ti.
Eu amo.



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