domingo, 17 de julho de 2011

O pé de feijão.



Desta vez eu vou dormir sozinho. Sim, por opção.  Vou tomar meu banho de uma hora e dormir o um minuto de sonhos que me resta. Não, pois eu não tenho escolha.
Quando a minha cama vazia me chamou eu me deitei com o mesmo entusiasmo de quando os meus lençóis eram proliferáveis como um mar salgado, porém, o algodão sovado que me envolveu esta noite não tinha o mesmo calor, nem o mesmo cheiro.  Na escuridão do meu teto branco como os corvos, leitoso como lágrima, uma fresta projetava meus amantes que me observam me acolhendo em suas risadas de prostituta. E eram felizes elas.
Da minha boca não saiu palavra. Dos meus poros nem suor saiu. E as lágrimas que escapavam eram de sono só, e não mais. Passei a noite jogando pôquer com meu travesseiro e depois me recostei nas plumas de um ganso que eu sabia muito bem onde estava chocando seus ovos de ouro. Preferi voltar para o pôquer e esquecer o gigante barbudo que morava num castelo nas nuvens. Ele queria me comer.
Ademais, as vagens que plantei não me levaram ao céu, tampouco saciaram minha fome. Daqui, de baixo dos cobertores, fico escutando o trinado da harpa encantada que passou a noite tocando Janes Joplin. Que harpa inconveniente. Foi aí que percebi que os espectros dos meus amantes haviam parado de rir a agora choravam copiosamente; e eu quase que percebi uma gota de dignidade brotando daqueles olhos. Me decepcionei, eram lágrima de crocodilo, patéticas lágrimas de cocô-de-grilo.
Fechei os olhos na esperança de enxergar uma escuridão mais convidativa, mas o que vi foi um caralho alado que passou voando por cima da minha cama recitando o salmo 23. Reabri-os. Vai saber, não é?
Os comprimidos que engoli foram incompetentes e não me levaram ao sono eterno que almejei. Eles caíram ruidosamente no soalho do meu estômago e ficaram fazendo serenata para minha vesícula. Que comprimidos imprestáveis, mas a vesícula bem que estava seduzida. Vesícula ordinária! Confesso que pensei em desenterrar as vagens e come-las, na esperança de matá-los afogados em nódia. Foi um pensamento estúpido.
Voltei a encarar meus amantes como se nada houvesse acontecido, mas eles começaram a bolinar uns aos outros e então eu revirei os olhos e desisti de vez! Mas o meu travesseiro continuava ali, sem o seu cheiro, sem o teu calor. Suspirei profundo e me virei de lado resistindo a uma ereção.
Ao longe escutei minha vaquinha desnutrida mugindo num pasto que já não era meu. E, ouvindo aquele chamado tristonho e grave, definitivamente fechei os olhos e adormeci planejando as vagens que refogaria no almoço de amanhã. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário