Não sei bem se é um vazio, mas sei que és oco, e quieto demais. Sei que nas rotundas deste seu corpo maciço existe uma solução de líquidos que clamam por um pouco mais de testosterona no peito, mais anfetamina na veia, mais epinefrina nos lábios. Sei que parte desses líquidos não jorra a meu favor, sei que não sou o único. Sei também que únicos não existem. Sei também que você aceita de muito bom grado não ser o único de ninguém.
Sei também que você se conhece, sei também que você sabe que eu sei que você se conhece. Sei também que você sabe, não de tudo, não de nada, sabe saber, sabe subir, sabe sobrar, sabe sobreviver, sabe sobrevoar, sabe sobrepujar, sabe subentender, sabe subalternar, saber surrupiar, sabe sonegar, sabe sorrir quando é preciso, sabe saber dos meus e dos teus shows, sabe sentir quando lhe é conveniente, sabe também interromper os sentimentos com louvável perspicácia, sabe salientar as palavras quando lhe convém, sabe fazer as coisas esse meu amigo... Sabe fazer, sabe sim... Sabe ser um sábio.
Sei também que você sabe que eu sei que você sabe, e isso te diverte.
Sei também que nada disso importa, sei que saber sobre sua sabedoria não me faz mais forte nem mais fraco que estas inverdades que te sustentam, fazem de mim apenas o apaixonado que sou. Sei ainda que a culpa não é sua, mas não por muito tempo...
Sendo eu o apaixonado que sou, a paixão não foi embora, quem se foi fui eu! Resolvi praticar um racionalismo e um distanciamento tão machadianos que me assustei quando me vi rascunhando as minhas próprias memórias póstumas... E elas eram bonitas sabe, pois você estava nelas. Olhei nos meus próprios olhos e admirei uma redoma tão límpida, tão úmida, tão pura, que só você não consegue ver. Percebi que não eram minhas vestes que estavam manchadas, não era falta de alvejantes na alma, eram na verdade os teus olhos que estavam embaçados. Embaçados não, ensebados. Ensebados não, exacerbados. Exacerbados não... mortos.
E sei também que eu sempre soube, era bom demais pra ser verdade... não era verdade afinal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário