segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Nem a Lua



Se mereces o meu perdão? Sinceramente não sei, mas você o terá, e se lambuzará dele. Vai olhar pra mim e acreditar que nada mudou, que somos os mesmos colibris de uma primavera passada, há tempos congelada, rarefeita num outono de desilusões.
Se mereço vossa sujeição? Sinceramente não sei, mas eu a terei e me lambuzarei dela. Vou olhar pra você e acreditar que nada mudou, que somos as mesmas epimélides de uma pradaria esquecida, ah tempos depredada, rarefeita num desgaste natural e singelo.
Se eu te amo? Incondicionalmente! Mas incondicionalmente não sei, mas eu te terei, e me lambuzarei de ti. Me entregarei e acreditarei que somos os mesmos virgens daquelas tardes sem pai nem mãe, tardes leoninas aquelas, a tempos apreciadas.
Se tu me amas? Inconstantemente! Mas com sua inconstância não sabes, mas você me terá, e se lambuzará de mim. Entregar-se-á e acreditará que somos as mesmas musas daquela Grécia que já não existe mais, com mármores de um branco que não reflete nossa pureza, pureza rarefeita no solstício das napéias.
Se nos merecemos? Sinceramente não sei, mas teremos sempre um ao outro, e nos afogaremos no nosso enroscar caudaloso, sem lambança desta vez. Dosaremo-nos, e cultivaremos um acreditar em versos sem contextos, versos felizes estes, há tempos reprimidos.
Se eu chorei? Meu quarto está alagado, e acho que não foi a chuva.
Chorar-se-ei? Não, minha vida estará radiante, e acho que não será o sol... nem a Lua.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário