Por mais pesada que seja a cruz ou as resmas de um alcorão,
E por mais brancas que sejam as areias da Galiléia,
Por mais rubro que seja sacratíssimo e imaculado coração,
E por mais vibrante que seja o altar e a assembléia...
Por mais ou por menos,
Por brancos ou bélicos,
Por grandes ou pequenos:
Não podem erradicar a dor,
A fome,
A ira,
O pecado...
A seborréia.
Ah sim!
Pois o senhor é meu pastor e nada me faltará!
Morrem-se aos montes diariamente e abundantemente!
E nada me faltará...
E a fome come os povos!
E nada me faltará...
E a pobreza diverte os ricos!
E nada me faltará...
E o catarro adorna os loucos!
E nada me faltará...
E a frieza consome a vida!
E nada me faltará...
Nada me faltará!
Só a vergonha na cara,
Só o tal do pastor,
Só o conceito de amigo...
Pois entre eu e meu umbigo,
Numa apoteose do ego consigo
Encontrar o meu pastor,
E nadar no malte,
E me alegrar na fraude,
E pecar de dia,
E orar de tarde,
E então escarrar na boca da miséria.
Ora, mas que elegância:
Belo exemplo de espírito,
Esperteza,
Beleza,
Mau-caratismo,
Destreza,
Hipocrisia,
Avareza,
Pobreza,
Safadeza...
E tenho certeza:
Ganância.
O insensato diz no seu coração:
“Deus não existe!”
Corromperam-se, praticando abominações:
Não há quem pratique o bem.
Do céu javé se inclina
Sobre os filhos de Adão,
Para ver se restou alguém sensato,
Alguém que busque a Deus.
Estão todos desviados
E obstinados também:
Não há quem faça o bem,
Não há nem um sequer.
Eis-nos então:
Embriagado em afagos de santos,
Endeusados entre bispos e mártires,
Ludibriados com salmos e cânticos,
Enganados por convenientes enganos
E exaltados a se gabar pelos cantos.
Odiosamente amados,
Descaradamente puros,
Orgulhosamente atados,
Tentados a fugir de apuros.
E assistido por palavras macias e olhos duros,
Por colinas verdejantes eu vou!
Madredeus?
Ah não.
“Madredemo”.
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