Tão vagos são os nossos destinos
Outrora escritos no livro do existir
Que, tão somente, a solidão dos vivos
Se tornou, se não, tão vaga
Quanto uma núvem branca
Sozinha na imensidão do azul
Tão só nascemos
Que à vaziez do mundo
trazemos
Tudo o que a muldidão do mundo
Não pôde lotar dentro de nós
Todas as miragens
Todos os destinos
Tão pouco traçados
Tão pouco desenhadas
Tampouco possíveis
O que seria de nós
Se não existissem os
outros
Para nos provar que a solidão é real?
Seríamos sozinhos e felizes
Ou não teríamos com quem aprender
Qual é a cor da felicidade?
Céus azuis e nuvens brancas
Seriam eles as felicidades
Das cores que nunca pintei?
O que seria dos outros
Se não existissem os eus
para que não houvesse entre eles
ninguém a quem chamar de nós?
Como poderiam serem eles sós
Se à sombra da companhia jamais se deitariam?
Seriam egoístas como um Deus
Ou insolentes quanto o Diabo?
Saberiam o limite entre o bem e o mal
Sem ao menos saber o limite do amor?
A quem amaríamos
Se não a nós mesmos
Uma vez que mesmo nós
Não desvendamos o mistério do amor?
Seríamos hermafroditas da morte
Parindo filhos da inexistência
Ou nos marturbaríamos à revalia
Fecundando a iminência do vazio?
A quem odiaríamos
Se não tivéssemos em quem depositar a culpa
De tudo aquilo que sonhamos e não fizemos
Ou de tudo que não fizemos sem poder sonhar?
Seríamos seres de luz e elevação
Ou rastejaríamos sob a treva do recolhimento?
Minguaríamos à inanição
Ou daríamos ouvido ao instinto?
Ensurdeceríamos sob o silêncio de outrem
Ou emudeceríamos sem ninguém para nos ouvir?
Tão vagos seriam os nossos passados
Doravante, escritos no livro do existir
Que, tão somente, a solidão dos mortos
Se tornaria, se não, tão vaga
Quanto um céu azul
Vagando na imensidão de uma nuvem sozinha
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