domingo, 10 de junho de 2012

Minha Lua



A lua que te ilumina
Não é a mesma alva carnificina
Que resplandece meu anoitecer

Pois tenho de confessar
Que a beleza do meu luar
É apenas o sol disfarçado de escuridão

Sempre, então, que o sol se deita
Evoco os deuses de minha seita
Que cultua apenas meu próprio umbigo

Às vezes, porém, não consigo
Renegar o ardor do inimigo
Que intumesce meu coração

Os outros são o meu inferno
Quando a força de um amor tão terno
Arrefece as vísceras dentro de mim

E o sangue percorre finalmente
A pobreza não tão inocente
De minhas rimas foscas e luarentas

Tais palavras de queixume
Céticas, alcançam o cume
De um inalcançável Olimpo sem fé

Não alcançam, no entanto
Nem de leve, nem quebranto
A profundeza dos seus olhos cansados

E o meu amor só se solida
Quando a lua tão esquecida
Conquista um beijo ardente do sol

Tal beijo, no entanto, jamais se consuma
Nem mesmo quando a mágica da bruma
Amarra os corações dos incrédulos

E de quebra me amaldiçoa a vida
E recende o odor da ferida
Ferida aberta para o luar entrar
  
Acontece que a lua é trapaceira
Pois mesmo quando sem eira nem beira
Sabe como pechinchar um romance
  
Mas como disse, eu não tenho chance
Pois minha esperança é apenas um relance
E minha lua é só o sol disfarçado de escuridão.

Um comentário:

  1. Se não gostasse tanto de você... Sentiria muita raiva por ter que disfarçar a grande inveja que você suscita... Por ser tão além do que podemos alcançar com todos os rótulos que temos nas gavetas... prontos para facilitar nossa vida de relacionamentos. Você é desconcertantemente um grande poeta... E eu admiro muito você conseguir seguir em frente sendo ainda tão pequeno... Beijo carinhoso!

    Deusimar

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