É engraçado. Às vezes, na verdade muitas vezes, parece que eu me esqueço de olhar para o céu. Deveria, se não para orar ou agradecer, ao menos para me certificar de sua existência ou para averiguar se, por ventura, assim como no meu esquecimento, ele tenha talvez se esquecido de amanhecer azul. Mas a aura anilada e anilhaçada do universo continua sempre pairando sobre a cabeça dos amnésicos, como eu, inspirando as apaixonadas poesias, como as minhas, e toldando as carícias das provenientes paixões, como a nossa.
É sempre tão azul, como se para enfatizar a verbosidade esverdeada dos teus olhos, dois gudes esmeraldinos perscrutando até a última doçura do mel que colore o meu olhar, escandindo cada uma das mentiras que nunca foram proclamadas. Ora, pois somente a verdade reinou entre nós, magnífica, imperando como uma rainha singela e inexpugnável. Já que é sempre tão verde, de um verde tão vigoroso, que carrega em seus vislumbres a experiência das rameiras do norte e as jovialidades das parreiras do sul. Ao leste e ao oeste, porém, era o vigor dos teus braços que me envolvia, laço arrebatador cujo nó era acintosamente tecido por fiapos de noite, tingido pelas várzeas fálicas do desejo e descosido pela agulha intumescida da paixão.
Apaixonado foi o intumescimento primeiro, uno e derradeiro, proferindo junto aos meus gemidos juras de amor que jamais hão de ser conspurcadas. Conspurcado foi intento ardiloso que de boa vontade me fez possuído pela rudeza dos seus dedos calejados e aquecidos, como é do meu agrado. E então, sentado, fiz do teu colo dominador o meu trono, minha cela de estribos invisíveis e indizíveis, me levando a galope até a planície mais sublime do seu coração, esmiuçando cada gota viscosa do seu inócuo prazer.
Já o meu, digo, o coração, alucinou-se ao testemunhar o quão linda e providentemente as sucessões foram se sucedendo, cada coisa ao seu devido e indevido tempo, naturalmente, como uma flor que desabrocha desesperada, no entanto sem pressa. Tenro como só o amor sabe ser, apreciando o valor de cada olhar, de cada suspiro e de cada cor. O azul eterno do céu estrelado, a ênfase esverdeada dos olhos aguados, o arroxeado dos lábios beijados, a brancura indecente da pele e a transparência do suor orvalhado pelos nossos corpos desnudos, umidificando as vistas e embaçando as janelas.
E as janelas, traiçoeiras, mostraram-me de um ângulo inconcusso a resplandescência enegrecida de um céu que por vezes me esqueci de olhar, tão plácido, tão faceiro. Um céu cujo horizonte não me era visível, pois nas na fronteira do meu olhar pensativo só se vislumbrava seu nome. E as estrelas e a lua, outrora tão abandonadas, ganharam hoje em meu peito uma nova significação, por que agora eu tenho, quando olhar para elas, alguém em quem pensar e lembrar. E fazer que essa lembrança transcenda as fronteiras da distância, para que eu seja sempre seu e você seja sempre meu, até o nosso sempre durar.
me fazer chorar desde o começo naum pode lindaum...to aqui debulhando em lágrimas e querendo voltar no tempo pra ser sexta feira de novo.............Lindo tudo isso...apaixonante e pra poucos que tem a sensibilidade de perceber o quao efemeras saum as alegrias dessa vida....bjo no coração lindaum!
ResponderExcluirque lindo!
ResponderExcluirProclamação inspirada de rainhas palavras: vigorosas, rameiras, intumecidas e derradeiras até que seu agrado clame por outras... Marcos, tomo sempre a liberdade de usar emprestadas palavras de sua poesia para te elogiar...porque palavras minhas seriam frágeis diante de sua exuberância.
ResponderExcluirDeusimar