Com o passar dos anos, e com a estadia da experiência, você percebe um dia que tudo na vida é nocivo. Conclui, porém, por circunstâncias, que alguns venenos são mais saborosos e que matam mais lentamente, com maior perícia. Com as veias imundas e intoxicadas, então, o que nos resta e caminhar na direção em que o nariz aponta, sem ao certo saber se em busca de um antídoto ou se de um soro um tanto mais límpido, que abrevie a dor.
A vida é como um esfaqueador, que gosta de encarar e registrar o visceral momento em que o brilho abandona os olhos, e recordar depois das vísceras como seu novo prelúdio de masturbação. E ela sabe gozar, a tal da vida. A morte, por sua vez, é como um estuprador: quando menos se espera, sem amor ou consentimento, ela chega pelo lado mais escuro da rua e nos preenche por inteiro. E se gritar é pior. Se gritar ela entra com mais força.
E a vida e a morte, tão irônicas, às vezes alimentam fetiches uma pela outra. Pois eu sei que os opostos nem sempre se atraem, mas às vezes sim e temos de respeitar. As duas flertam, sabe, cobiçosas, retesando-se sempre nos limites entre a cordialidade e a depravação. Quem olha de longe vislumbra um chá de comadres, mas quem escuta o que dizem só consegue visualizar duas prostitutas tragando e debochando, inalando o fedor que os seres humanos exalam toda vez que se levantam e se deitam sobre elas. Mas elas são esforçadas, deve-se ressalvar, por amor à profissão, imagino eu.
O esforço, no entanto, é uma dádiva dos medíocres. Quem é bom é bom por que é bom, por que faz por prazer. Mas eu, como que por castigo, sou regado a cada dia pelo suor da mediocridade, e me deixo levianamente levar na saudosa labuta dos brasileiros, povo de fé, da nuca suada e do sangue quente. Vou galgando degraus que desmoronam sempre que o patamar do sucesso se aproxima, mas eu os reconstruo, ou talvez até passe impetuoso por cima dos escombros, de pés descalços e cabeça erguida.
Que comovente este meu coração engajado, ora, pois, engajado na minha própria luta e no meu próprio deleite. Se a vida e a morte são prostitutas, minhas caras, hei eu de pagar o preço. Serviço completo! Com direito a dupla penetração e lençóis limpos. E se o resto são venenos e antídotos, mergulharei no alambique engarrafado de Minh‘alma e embebedarei cada poro meu na ardência da mais pura cachaça, anestesiando, assim, as queimaduras dos ombros que esse sol ainda há de queimar. Pois eu sei que Deus é brasileiro, mas o diabo é poliglota e também sabe falar o bom português.
Valha-me Demo, cafetão da morte-vida! Talha-me com a faca do açougueiro tão viril e molesta-me no falo rubro da pátria amada: pau-brasil. Tarados, esfaqueadores, poetas e prostitutas. Nocivos e revigorantes em equivalência. É que com o passar dos anos você percebe que tudo na vida é nocivo. E conclui, por circunstâncias, que alguns venenos são mais saborosos e matam mais lentamente, com maior perícia. Com as veias condenadas, então, bombeio esse meu sangue miscigeno com todo meu fervor, todo meu calor, correndo em maratona na direção em que o esperma jorra, sem ao certo saber se para regar essa terra roxa ou seu para alimentar os sacrilégios do meu amor.
se o diabo é poliglota e deus é brasileiro.. nois tá eh fudido véi. kkk Lindo texto
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