A vontade que tenho, às vezes, é de tacar merda no ventilador. E depois, rindo, contemplar a benevolência fétida dos coliformes que se fariam pássaro na atmosfera desta festa suja. Onde estão meus convidados? Foram-se todos? Há! E rirei ainda mais. Hei de entoar as gargalhadas e os hálitos leoninos e os soluços alcoolizados: trilha sonora destas minhas noites tão silenciosas, melodia uníssona destas lágrimas tão faceiras.
Amo aquele cheiro besta de final de festa. É bom, faz bem respirar essa maledicência dos homens solteiros. Suor e Sal. Cerveja e porra. Resvalando e ecoando nossas epifanias bulbouretrais; nossos movimentos imprecisos, porém maquinais; fluindo essas verdades tão falsas quanto os convidados apáticos que já despachei.
Onde estão os penetras?! É com eles que me divirto. Pois não mais quero dançar este bailado primaveril, tampouco abrir-me nesta penetração tão viril. Agora me flagro almejando o cálice e o pão, o sóbrio e são, a aliança dourada que não trespassa os meus dedos, mas que ultrapassa os meus medos. Amedrontado, então, me calo, e calado engulo as juras de amor. As tais juras, no entanto, descem-me às entranhas queimando o que resta do coração. E o coração, coitado, aos berros amaldiçoa esses tragos triviais, estas sedes viscerais, estes fluidos, destilados ou não, que regam hoje este meu corpo tão juvenil.
Tragam a jarras d’água! Hei-as de transformar em vinho, bravata roxa que umedecerá nossas securas! E os convidados, tão poucos convidados, me sugarão e me regurgitarão, me farão safra nova, degustar-me-ão e, juntos, clamaremos Baco ou Dioniso, ou o capeta, com nossos hinos imemoráveis, nossas sinfonias de ardor! E os penetras? Ah, doces penetras, como é de praxe, penetrar-me-ão. Desbravarão o âmago obscuro que gesta estas loucuras, estes sacrilégios, esta merda toda!
Daí, todos juntos, eu e meus sodomitas que só existem na minha cabeça, transaremos loucamente numa pífia tentativa de esquecer você. Respiraremos juntos os coliformes e os fusiformes, tanto os fecais quanto os seminais, numa esperança tola de preenchermo-nos com o vazio. E um dia, num belo dia, impregnado desta maledicência tão benévola, regressarei a ti e serei recebido de braços abertos; pois, para quem não fede e nem cheira, posso ser regado tanto de perfume quanto de mijo e continuar a ser ainda a mesma flor branquela e sem graça, o botão inodoro que sempre desabrocha ao seu bel prazer, e que se abre feliz, deleitando-se nestes néctares tão inomináveis.
Eu, porém, não me queixo disso. Devo é me fazer por satisfeito. Insaciável, admito, mas satisfeito, na medida em que os instintos me permitem. Meu prazer está na submissão incorpórea de estar por baixo dos corpos sem deixar de imperar sobre os corações, pisando-os, escravizando-os. Da minha chibata, brotam carícias que enfeitiçam os homens e que anestesiam as dores que estão por vir, inevitavelmente. É assim, ardilosamente, que vou fomentando esta minha forma triste de ser tão feliz, este jeitinho infeliz de nunca ser triste. Arrependimentos me golpeiam a cada dia, mas o incômodo que me fazem é um preço demasiado barato. Sei que meu romantismo há de aflorar um dia, assim como aflora este meu corpo vão, enquanto isso ficará guardado no fundo da gaveta vermelha, onde se amontoam canetas velhas, clipes de papel e camisinhas. Então, por fim, antes que cheguem as dores, proclamo estas palavras, esbravejo de um sonho tão febril. Palavras que nunca ressonarão no céu da boca, nem no inferno do cu.
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