segunda-feira, 21 de março de 2011

Despedir e Manusear


De repente bateu uma vontade de ter dezesseis anos, de bancar o aspirante a adulto, cheio de dedos, pra se impor num nada, e cheio de “não me toques”, mesmo estando louco pra ser tocado; de sustentar uma maturidade da qual o fruto já se esborrachou no chão; uma vontade de internalizar revoltazinhas e dizer, como você, de peito estufado: “Cada dia me decepciono mais com as pessoas!”. Sim, pois sua biluguinha fedendo a fraldas acha que exala o mais nobre dos tabacos.
 Você, tua boca, tua língua, que fala de feijão como se fosse uísque. Você, teu corpo, que dorme no ácaro como se deitasse na seda. Você, teus olhos, que olha pras raparigas da noite e enxerga príncipes. Você, seu todo, um couro curtido que acredita ser a mais suave pele de pêssego. Do esguicho de mijo ao rio de prata, da terra batida ao mármore branco, do algodão cru à alfaiataria, da realidade de pedras aos sonhos de ouro, de você aqui até você acolá. É assim que te vêm, meu amor, e por isso quero hoje ser o teu espelho: ser inversamente proporcional a ti.
E é realmente triste você acreditar que uma cronologia tão vã nos faça maior que os outros. Não sei se fico com raiva, se dou gargalhadas, ou se sinto pena. 
E é isso. Meus esforços foram insuficientes e não conseguiram impedir que eu me despedisse das tuas virtudes. Meus sonhos não dormem mais e não são mais capazes de reconstruir você. Mas meu clamor foi ouvido a léguas de distância, e mãos predispostas vieram de todas as direções, só a sua é que não veio. Mas hoje eu percebo que ela ainda está aberta em minha direção, mas você não tem coragem, ou humildade, pra esticar o braço. Pois então, perdão, vire-a para lá, recolha seus dedos, feche tuas mãos. De verdade, não há revolta, mas você não mais me terá dentro delas. 

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