terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A Máscara


Olhe no meu rosto. O que vê? Se fossem sorrisos, ora, estas palavras não careceriam de ser rabiscadas. Contemple o esgar indolor que se estampa em cada ruga minha, vede o vazio dos meus olhos, dispa esta minha máscara de ineptidão. Da inepta vitória, apta derrota. Da vitoriosa tristeza, a inércia nula dos fracassados. O fracasso, porém, nunca foi um de meus temores, sendo ele a todos nós um destino inevitável. Pois, partindo da premissa de que o mundo é dos vencedores, bem, conclui-se que o mundo não tem dono.
Melhor assim. Estou convicto de que de tal modo o mundo se encontra em boas mãos: em mão alguma. No entanto, abstendo-me dessa possessividade tão vã, a quem pertence o pobre dom da propriedade? Propriamente dita, pertence ao pertencer, versada na magia verdosa do capital, capitalizada naquilo que muitos chamam de amor. Eu, tão inapto, chamo de sexo.
É de fato contrastante, pra não dizer grotesco. Meu olhar vazio vagueando pelo meu corpo, meus órgãos e membros, que serpenteiam e incandescem em mim, torturando cada célula minha e entoando o berro animalizado que escapa de cada poro meu. Chega a ser cômica a figura de meu rosto estatizado contrapondo-se ao meu todo que baila, cada micropartícula que infinitesimalmente dança, cada filamento nervoso que emite ondas eletromagnéticas, desfibrilando impiedoso meu coração desapaixonado.
Mas meu decrépito rosto se faz impassível, fazendo de minhas acnes asquerosas a sua única demonstração de vida. Maldito seja, sebo odioso que me espoca no vincos do canto da boca, se misturando ardiloso ao veneno do meu salivar. Da tal boca, que se abre de quando em quando, tão maldita quanto, profanam-se palavras sopradas que açoitam a alma daqueles que caminham mais achegados. Alguns choram. Outros fogem. E tem aqueles que fingem força, como eu. 

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