sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Canção Setembrina


Quando o amor bater à minha porta não a abrirei de prontidão. Hei de deixá-lo a espera, fritando enquanto me perfumo e me pinto de cores fortes. Quando ele entrar não o convidarei a sentar, como é de praxe. Ficará de pé, assim como é do feitio dos servos. Da cozinha, onde é seu lugar, o chamarei a prostrar-se ao meu lado e comer da minha mesa, a qual juntará as migalhas quando for a hora, a qual decorará com flores quando a hora for.
Do leito onde me recolho só se aproximará ao meu chamado, só se deitará ao meu bradado, e só se fartará aos meus gemidos. No resvalo da manhã seguinte, esperará de pé à cabeceira, penteado e limpo, satisfeito e sóbrio, engomado e mudo.
Da desilusão, nada me iludirá. Pois não haverão sonhos. Realidades? Ainda menos. Amor? Infinita e incondicionalmente, daqueles que queimam sem deixar cinzas, que matam sem se quer ferir. A submissão há de ser uma máscara, e o sacrifício mútuo, uma verdade daquelas que não doem. Dos românticos, só restarão as flores; dos realistas, somente as certezas; e do que falta, somente o que sobra.
Sofrer é uma escolha. Deixar de sofrer, porém, não significa deixar de amar. Significa amar-se o suficiente para ter a humildade de aceitar que não há nada mais importante que si mesmo. Sim, a humildade. A vida me ensinou assim. Ou fui eu que ensinei pra ela.

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