O martini desta noite foi servido num copo plastificado, frágil e ensebado. E era caro, o martini. Caro também eram os meus amigos. Caros amigos! Parceiros de uma dança que não saía da cadeira.
Caro martini, caros amigos, boa música e poesia. Burburinho! Um cheiro que resvalava inconcusso entre flores e falos; risadas abafadas pelo chorinho de notas simplórias, embargadas por seus devidos copos de plástico. Vinha: tabaco cheiroso, gente bonita... Mas minha cabeça estava longe, muito longe.
Pregado na cadeira, contemplei a felicidade que me rodeava e a odiei fervorosamente. Porém, meu caráter é nobre e meu sangue é azul. Por isso não sorrirei pra desgraça dos outros: esta noite chorarei pelas bênçãos que não são minhas.
Confesso! Eu também bebi, eu também embarguei minha boa risada, eu também prostituí meu verso e minha prosa nesta noite tão farta em carisma e tão pobre em caridade. Não vou dizer que bebi por você, mas o tombo na sarjeta eu lhe dedico. Se me vendi não foi por você, mas em ti depositarei uma generosa comissão. Aguarde, meu caro especulador de corações! Esta noite hipotecarei o corpo que só você não quis comprar!
Doravante, perguntas se eu me arrependo? Sim, eu me arrependo. Queria sim que o tempo voltasse, ou que o mundo parasse. Queria sim que fosse tudo diferente. Pois sei que o amor que sinto hoje é bem maior que o orgulho que eu tenho por dever sentir um dia. E é muito mais caro, ainda mais precioso que aquele cretino martini naquele copo descartável... Descartável como nunca você vai ser.
"Não vou dizer que bebi por você, mas o tombo na sarjeta eu lhe dedico. Se me vendi não foi por você, mas em ti depositarei uma generosa comissão. Aguarde, meu caro especulador de corações! Esta noite hipotecarei o corpo que só você não quis comprar!" Adorei essa parte ;)
ResponderExcluirÉ incrível como podemos nos identificar com textos alheios, sensações alheias, sentimentos alheios... Mesmo compartilhando do mesmo momento.
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