terça-feira, 10 de maio de 2011

Antífona do Amanhecer


O sol que afugenta minha madrugada não se repetiu esta manhã. Por de trás dos montes eu o via me espiando cheio de temores. Teu fogo era pálido e o teu calor não era quente. Entre as montanhas e nós havia um véu de arrependimento; Uma névoa seca que impregnou minha roupa e me fez ansiar uma aurora que nunca veio; Uma barreira imaginaria se ergueu tão concreta que me fez pensar que a beira do mundo fosse ali.
Mas a beira era eu.
Ainda sem brilho, o céu se encheu de nuvens e o dia se iluminou de uma luz que não vinha das estrelas. Naquele instante eu via nove planetas que plainavam ao meu redor, uma cortina de constelações que me vestia, um cinturão de astros dourados que envolviam meus dedos. Fiz-me Deusa. Fiz-me força.
Porém, o grão de mostarda que brotava em meu peito não fez mover as montanhas. Pedra sobre pedra, a solidão era iminente. Mesmo que ao meu redor uma multidão clamasse meu nome eu insistia em ouvir o som do silêncio. O meu toque quebrantava e minha palavra era lei, ainda assim, somente o seu beijo moveria os meus lábios; somente os teus sonhos me fariam realidade; só a tua voz abriria meus ouvidos.
Mas o sol nunca veio. Cego, surdo e mudo, continuo onde estou. Cuidando dos homens, movendo os planetas, tecendo dia após dia aquele véu ordinário. Sempre vivo. Sem a coragem e nem a covardia de me matar. Sem a luz que me aqueceu um dia. Sem a voz que já cantou pra mim. Sempre aqui. Esperando. Vivendo. Na esperança de que o mundo amanheça outra vez.  

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