Minha cabeça dói.
Meu corpo se deita.
Meus orifícios ameaçam esgurmitar todo meu suco cerebral!
Minhas vísceras cantarolam um mantra demoníaco!
Enquanto meus olhos reviram até enxergar o interior de meu crânio.
Dentro dele só existe um vulto resplandecente
e impetuoso que sorri pra minha desgraça!
...Droga! Linda, forte, doce e viciante droga!
Nem mesmo na doença abandonas minha enferma cabeça?
És o vírus do qual não quero me curar,
E se existir uma cura afinal, que sejais você o médico.
És a praga da qual vale apena adoecer!
És a morte de onde o suicídio brota com prazer!
És a vacina da qual a agulha me excita!
És o termômetro que mede calores inimagináveis!
És o álcool e o algodão incapazes de esterilizar minha alma!
És uma fava amargosa, mas que cura e me faz bem.
És uma capsula poética, efervescente quando lhe é direito!
És o raio que nunca chamarei de “x”, já que você nem me enxerga!
...Droga! Linda, forte, doce e viciante droga!
Você julga ser a cura dos meus pesadelos,
Mas não vê que é na verdade a praga de meus sonhos.
Você usa de métodos nada convencionais
E quer sempre me curar pelo lado de dentro.
Você me quer dopado e estendido nos teus braços fortes,
Mas libera em mim uma adrenalina que me mantém eternamente aceso.
Você é um profissional que trata de modo prático e com agilidade,
Apesar dos efeitos de seus remédios acontecerem tardios e arrependidos.
Você me examinou de todos os ângulos possíveis,
Mas as amostras do meu sofrido sangue nunca lhes são suficiente.
...Droga! Linda, forte, doce e viciante droga!
Você que não se veste de branco;
Você que cura virtudes e chupa feridas;
Você que se automedica contra uma doença que só você vê em mim;
Você que até sabe examinar, mas febrilmente delira.
Você que sustenta um bisturi envenenado na ponta da língua;
Você que me anestesiou trazendo uma dor que nunca senti!
Mas você me faz vivo,
E eu te amo Doutor.