segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Carta à saudade



Sinto falta dos amigos, daqueles que um dia foram rotina. Das piadas, das injúrias, da chateação. Das segundas-feiras sóbrias e arrastadas, recheadas de vagas conversas arremessadas ao vento. Talvez não ao vento, mas ao abismo que se forma quando uma alma se encosta em outra. E por mais que almas não existam, às vezes faz bem acreditar que sim. É bonito pensar que nem tudo são átomos, assim como nem tudo são flores.
Sinto saudade das flores, daquelas que um dia admirei com carinho, que cheirei com fé. Daquelas que nunca ofereci aos amigos, nem a Deus, nem a ninguém.  É duro imaginar que hoje a brisa se tornou incapaz de me trazer o alento que na infância trazia, e que, por mais que eu tente, não há pétala ou espinho que me faça desabrochar para o sol, não há luz que me faça olhar para o céu, não há chão que me faça ajoelhar ao sagrado.
É tão bonito ver nos rostos viçosos a vibração de um espírito que ainda crê na esperança, e que faz dela um agasalho para a vida e um uma venda para os olhos da razão. Muitas vezes me pergunto por que razão me presto ao desserviço da vida. Me debato quanto ao cerne do que tenho por amor e vejo que o que me resta para fazer de troféu são os saudosos amigos, aqueles que um dia foram rotina.
Até mesmo da rotina me recordo com saudade, pois, mesmo sem me arrancar suspiros, me toca profundo quando lembro do alvorecer acinzentado que me guindava da cama para um mundo cheio de tédio, de monotonia. Bela era a monotonia, entorpecida pelo descaso, cíclica como a vida que a morte faz questão de nos esfregar na cara.
E por mais que a vergonha ou o pudor nunca tenham me perpassado a face, é com receio que vejo o caminho daqueles que amo rumando a lugares que o meu não irá. De longe observo passos que são dados rumo às escuridões que tempesteiam longe dos meus olhos, mas que ainda assim sufocam meu coração. Vejo um futuro vazio e um passado poluído demais para ser contado em palavras. Mas o passado ainda me comove, pois sinto falta dos amigos, daqueles que um dia foram rotina.